Filme sobre garimpo vence festival de cinema ambiental em Goiás

Festival de cinema ambiental é o quarto maior do mundo sobre o tema.
Evento reuniu 250 produções de 13 países.

André TrigueiroGoiás, GO

Uma vez por ano, a pequena e pacata cidade de Goiás, ex-capital do estado, a 135 quilômetros de Goiânia, terra da poetisa do Cerrado Cora Coralina, transforma-se na capital mundial do cinema ambiental. Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, Goiás foi invadida por pessoas do mundo inteiro apaixonadas por cinema e por meio ambiente.
O Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental de Goiás (FICA) é o quarto maior festival do mundo sobre o tema e o mais importante da América Latina. O curioso é que a cidade não tem um cinema sequer. Para abrigar o festival, o Teatro São Joaquim ganhou um telão e o ginásio de uma escola pública virou um cinema de 500 lugares, com direito a isolamento acústico e ar-condicionado. Tudo de graça.
Este ano, foram inscritos 488 filmes, entre curtas, médias, longas e séries de TV. O evento reúne 250 produções estrangeiras de 13 países, como Alemanha, Itália, China e Espanha. Falar de meio ambiente em Goiás revelou histórias do mundo todo.
O francês Geoffroy percorreu de moto com o irmão Loic os 13 mil quilômetros que separam Uganda, na África, de Israel, no Oriente Médio. O resultado da viagem é um documentário sobre como diferentes povos fazem uso da pouca água disponível.
Um concurso de beleza para hortas urbanas é o tema do filme do italiano Gianluca Marcon. Na cidade de Bolonha, onde ele nasceu, é muito comum as pessoas terem hortas em casa. Com o filme, Marcon quer estimular mais pessoas a fazerem o mesmo.
O chinês Yu-Shen Su fotografou todos os novos amigos que fez em Goiás. Trouxe na bagagem um documentário sobre a nova geração de cidades que estão sendo construídas na China. É uma crítica à forma como milhares de pessoas estão sendo obrigadas a mudar de endereço.
Os brasileiros também fizeram bonito no FICA. O filme “A Galinha que Burlou o Sistema” mostra os 45 dias de vida de uma ave dentro de uma granja. “A brincadeira que eu e a equipe, a gente, inventou para contar a história desse filme, para não virar só um filme documental e para aproximar do expectador essa história foi fazer, fazer com que quem contasse essa história, quem desse a narrativa, fosse uma galinha”, diz o diretor Quico Meirelles.
O diretor é filho de Fernando Meirelles, um dos grandes diretores brasileiros e que também esteve em Goiás para apoiar o Quico Meirelles e o cinema ambiental. “Esse tipo de iniciativa vai aparecendo à medida que vai ficando mais urgente, que as pessoas vão percebendo que isso é uma causa urgente. Eu acho que a questão ambiental é um excelente tema para ficção científica, para todo tipo de produção”.
Foi entre trabalhos de ficção e de realidade que um problema social e ambiental brasileiro levou o grande prêmio do festival deste ano. O vencedor foi o longa-metragem “A Lenda da Montanha de Ouro”, sobre o garimpo de Serra Pelada. A saga do formigueiro humano que promoveu a maior corrida do ouro da história em plena Floresta Amazônica consumiu 11 anos de trabalho do cineasta Victor Lopes.
“Eu acho que a definição do cinema ambiental é por si só uma definição muito ampla, que eu acho que não cabe só em questões de ativismo ou de acusação. Agora, de qualquer maneira, ele vai informar e vai fazer com que as pessoas sintam e pensem o que é meio ambiente de outras maneiras”, diz o cineasta Vitor Lopes.
Neste festival, mais do que a disputa que distribuiu R$ 210 mil em prêmios, o clima foi de confraternização e de troca de experiências. Afinal, quem chegou ao festival já se sente vencedor. A tribo dos cineastas verdes é unida e continua crescendo em tamanho e prestígio

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