Para participantes de encontro da indústria em Florianópolis, Brasil precisa produzir mais filmes e de gêneros diferentes para ampliar participação de mercado

Luísa Pécora, iG São Paulo |                  
O dinheiro foi captado, a equipe se formou, tudo deu certo durante as filmagens e na pós-produção. Nada disso garante que um filme brasileiro consiga superar o último obstáculo: chegar até o público. Porque o mercado está dominado por blockbusters estrangeiros, e a ocupação da produção nacional fica entre 10% e 15%.
Alcançar uma maior participação desse mercado, conhecida como “market share”, é um dos objetivos cruciais do cinema nacional. E embora existam muitas teorias sobre o melhor caminho para se chegar lá, duas apostas são claras: ampliar a escala de produção e diversificar a oferta, com filmes de todos os gêneros e pensados para diferentes públicos.
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O elenco de "Vai Que Dá Certo" participa do Encontro do Cinema Nacional em Florianópolis. Foto: Geraldo Protta / Imagem FilmesO diretor Maurício Farias entre os atores Danton Mello, Felip Abib, Natália Lage, Bruno Mazzeo e Lúcio Mauro Filho. Foto: Geraldo Protta / Imagem FilmesDanton Mello e Bruno Mazzeo concedem entrevista. Foto: Geraldo Protta / Imagem FilmesNatália Lage, a menina da turma de "Vai Que Dá Certo". Foto: Geraldo Protta / Imagem FilmesLúcio Mauro Filho se diverte com resposta do diretor Maurício Farias. Foto: Geraldo Protta / Imagem FilmesFelipe Abib e Silvia Fraiha durante entrevista coletiva. Foto: Geraldo Protta / Imagem FilmesLaila Zaid e Thiago Mendonça assistem "Somos Tão Jovens" pela primeira vez. Foto: Geraldo Protta / Imagem FilmesOs atores durante entrevista coletiva em Florianópolis. Foto: Geraldo Protta / Imagem FilmesAntonio Carlos da Fontoura e o elenco de "Somos Tão Jovens". Foto: Geraldo Protta / Imagem FilmesA equipe por trás de "Somos Tão Jovens", a cinebiografia de Renato Russo. Foto: Geraldo Protta / Imagem FilmesBruno Barreto e Glória Pires participam do Encontro do Cinema Nacional. Foto: Geraldo Protta / Imagem FilmesO diretor de "Flores Raras", Bruno Barreto. Foto: Geraldo Protta / Imagem FilmesLucy e Bruno Barreto posam com Glória Pires em Florianópolis. Foto: Geraldo Protta / Imagem FilmesDanilo Gentili, Leandra Leal e Bruno Gagliasso divulgaram "Mato Sem Cachorro", que não foi exibido. Foto: Geraldo Protta / Imagem FilmesO longa, que aposta no filão "filme de cachorro", estreia em 12 de julho. Foto: Geraldo Protta / Imagem Filmes

O elenco de “Vai Que Dá Certo” participa do Encontro do Cinema Nacional em Florianópolis. Foto: Geraldo Protta / Imagem Filmes
A questão dominou um dos debates do               4º Encontro do Cinema Nacional, evento promovido pela distribuidora Imagem Filmes que reuniu realizadores, exibidores e imprensa em Florianópolis (SC) entre 7 e 9 de março. O aumento da produção é visto como capaz de ajudar a solucionar todos os principais problemas – desde a falta de profissionais qualificados até a dificuldade de planejamento.

Durante o evento, a distribuidora comemorou o fato de ter oito filmes nacionais programados para este ano e mais 12 para 2014. A expectativa é a de que a produção contínua permita que as empresas preparem melhor cada lançamento, analisando casos anteriores e descobrindo como “vender” o produto para cada região e faixa de público.
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“Tudo contribui conforme a escala aumenta”, afirmou o executivo da Imagem, Marcos Scherer. “Se temos um histórico de produção, conseguimos saber como gastar o dinheiro e obtermos melhores resultados.” (Entre os dados já conhecidos: o cinema nacional, principalmente de comédia, vai pior na região Sul do que no restante do País).
 

Divulgação

Ingrid Guimarães e Maria Paula nas filmagens de “De Pernas pro Ar 2” em Nova York

 Embora seja otimista quanto ao futuro (ele espera que a Imagem venda 9 milhões de ingressos para filmes brasileiros este ano, muito mais do que os 600 mil de 2012), Scherer cita alguns desafios persistentes. Entre eles, a falta de profissionais em áreas como a direção de fotografia, os problemas de captação de áudio e a dificuldade para produzir longas de gêneros como policial, ação, aventura e horror (o roteiro de “Rastro”, que segue carona na franquia “Pânico”, está sendo trabalhado há mais de três anos).
“A longo prazo a comédia vai pesar muito, até porque é o que fazemos melhor hoje”, afirmou. “Achamos um caminho que deu certo, mas estamos procurando outros. Não queremos ficar tão presos a um gênero só.”
‘De Pernas Pro Ar 2’ x ‘O Som ao Redor’
Outra questão que desafia o cinema nacional é o desequilíbrio entre os filmes de mercado e os autorais, recentemente exemplificada por comparações entre a comédia               “De Pernas Pro Ar 2”e o drama               “O Som ao Redor”. O primeiro, orçado em R$ 6 milhões, estreou em 718 salas; o segundo custou três vezes menos e ficou reservado a 13 salas no primeiro fim de semana.
Presente ao encontro em Florianópolis, o diretor-presidente da Agência Nacional do Cinema (Ancine), Manoel Rangel, criticou o “Fla-Flu” criado entre os dois filmes. “O Brasil precisa de todos esses cinemas: tanto o comprometido com a reflexão quanto com a diversão pura e simples”, afirmou. “Estabelecer essa dicotomia é tentar nos condenar a nunca ter uma indústria audiovisual robusta.”
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Divulgação

Kleber Mendonça Filho, diretor de “O Som ao Redor”

 O inimigo real
Sem citar nomes, Rangel fez referência ao recente bate-boca entre Kléber Mendonça Filho, diretor de “O Som ao Redor”, e Cadu Rodrigues, presidente da Globo Filmes, uma das responsáveis pela produção e divulgação de “De Pernas Pro Ar 2”.
A polêmica começou quando o cineasta, em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, disse que qualquer longa (até um que mostrasse o “churrasco do vizinho”) consegue fazer 200 mil espectadores com o “esquema” da Globo Filmes. Rodrigues respondeu desafiando Mendonça Filho a alcançar tal marca com todo o apoio da empresa. “Se não fizer os 200 mil ele assume publicamente que, como diretor, é um bom crítico”, afirmou.
Entrevista:‘Cinema está achatado por megalançamentos’, diz Kleber Mendonça Filho
O presidente da Ancine rejeitou uma disputa entre filmes brasileiros de mercado e de autor, dizendo que o real inimigo do cinema nacional é o blockbuster internacional. “Quero discutir ‘De Pernas Pro Ar 2’ e ‘O Som ao Redor’ versus a ocupação do mercado pela               quantidade maciça de filmes estrangeiros que entram todos os anos”, afirmou.
 

Geraldo Protta/Imagem Filmes

Manoel Rangel, diretor-presidente da Ancine, durante o 4º Encontro do Cinema Nacional

 
Rangel também negou a ideia de que hoje seja impossível fazer um filme de sucesso sem o apoio da Globo Filmes. “Não estou entre aqueles que acham um problema ter a empresa atuando. Pelo contrário: é bom que uma televisão tenha tomado a decisão de ter um braço de apoio ao cinema”, opinou. “Mas esse não é um arranjo mágico. Há outros possíveis, desde que as pessoas ousem.”
Parceria com a televisão
Outras apostas do governo brasileiro para impulsionar a participação de mercado do cinema nacional são o aumento no número de salas (as 2,5 mil de hoje devem chegar a 3,5 mil em 2016) e a aplicação da nova lei da TV paga, que estabelece cota de programação brasileira no horário nobre de redes estrangeiras, aumentando a demanda por conteúdo produzido no País.
A rede Telecine, parceira da Imagem na produção e divulgação de longas brasileiros há seis anos, garante não se incomodar com a exigência. Segundo o diretor-geral do canal, João Mesquita, a audiência de filmes nacionais costuma ser maior do que a registrada por internacionais que tiveram desempenho similar ou superior no cinema. No ano que vem, a emissora espera ter entre 20% e 25% de produções do País na faixa mais nobre da programação, a noite de sábado.
A parceria entre a distribuidora e a rede de TV beneficia ambas as partes. O apoio financeiro e de divulgação do Telecine ajuda o filme da Imagem a ser visto nos cinemas, o que por sua vez potencializa as chances de sucesso do longa quando chegar a hora de ser exibido na televisão.
“Quem investe fortunas fazendo filmes não pode contar apenas com a bilheteria e precisa das outras janelas (como a TV), que só funcionam se houver sucesso no cinema.”, diz Mesquita. “Não investimos no cinema nacional apenas para desempenhar um papel social. É um bom negócio.”

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