Alagoanos encontram na Economia Criativa modelo rentável de negócio
Indústria criativa do estado é a menor do país, revela pesquisa da Firjan.
Sebrae questiona números e diz que setor precisa de formalização em AL.
Apesar do entendimento ainda limitado dentro do mercado de trabalho e, até mesmo entre os profissionais inseridos no setor, a Economia Criativa, mecanismo de produção que tem as ‘ideias’ como recurso essencial para geração de valor, ganhou projeção no Brasil ao movimentar mais de R$ 126 bilhões, somente em 2013.
O boom no mercado ajudou o país a alcançar, segundo dados do Mapeamento da Indústria Criativa do Brasil 2014, 892,5 mil postos de trabalho. É neste cenário, de uma velha economia repaginada na última década, que estão inseridos os alagoanos Francisco Felipe, Thales França, Gustavo Boroni e Louise Freire.
Sem saber ao certo como contribuem para a projeção da Economia Criativa, o artista plástico Francisco Felipe, o ‘Chicus Felipe’, e o designer gráfico, Thales França, concretizam ideias em produtos e serviços rentáveis, mesmo que ainda no mercado informal.
Chicus Felipe trabalha com ilustrações através da técnica zentangle e produz imagens sob encomenda para clientes diversos.
“O que for visual eu faço. Basta o cliente dizer o que quer para eu criar. Faço de quadros a painéis em parede. De ilustrações em skate a tatuagens”, diz Chicus, ao enfatizar que neste mundo dos negócios a sua dificuldade é mensurar o preço da ‘ideia’ que, após aplicada em produtos físicos, é vendida pelas redes sociais.
Também disposto ao desafio de criar e lucrar com suas produções, Thales França reproduz, emMaceió, um modelo de negócio que já é sucesso nos grandes centros urbanos: um estúdio de design gráfico onde o principal instrumento de trabalho são as ideias.
“A ‘Art Skull’ (um trocadilho com palavras em inglês que pode ser traduzido para ‘Arte é Legal’) é uma empresa que criei para negociar minhas produções – ilustrações, pinturas digitais e a óleo, projetos de identidade visual e marcas etc”, explica França.
A inspiração para o modelo de negócios do designer veio do exterior. “Tudo é muito novo e os desafios são enormes porque o resultado final depende de fatores e situações que Maceió nem sempre oferece. Mesmo assim, acredito neste modelo de negócio porque é de fato o que desejo fazer da vida para ganhar dinheiro. Vi em viagens fora do país que lucrar com criatividade é possível”, expõe.
fotografia e moda (Foto: Arquivo Gtech)
Já mais amadurecido no mercado criativo, o publicitário e fotógrafo Gustavo Boroni lançou em 2014 sua primeira coleção de moda onde o conceito do negócio é a fotografia como estampa para roupas.
“Reuni diversas habilidades que possuo dentro das artes visuais. Algo que não é uma tarefa fácil porque não tenho só que concretizar ideias. Para tudo dar certo preciso me dividir em todas as etapas do processo, da produção das artes até a escolha do material têxtil; da venda a logística de entrega dos produtos”, conta.
Segundo ele, investir na área da Economia Criativa vai muito além do talento. “É claro que é impossível entender de tudo. No entanto, é preciso saber um pouco de cada coisa para conseguir concretizar o negócio”, orienta Boroni.
Desafios
Porém, esses desafios não são os únicos para quem atua na Economia Criativa. É o que destaca a gerente da Unidade de Comércio e Serviços – Turismo e Economia Criativa do Sebrae Alagoas, Vanessa Fagá, ao expor que a maior dificuldade do segmento ainda é a informalidade, o desconhecimento sobre este modelo de economia e as potencialidades de geração de negócios.
“Os números da Economia Criativa levantados no país até o momento não traduzem bem a realidade porque muitas pessoas, primeiro, não sabem que estão inseridas neste segmento; segundo, porque atuam de forma desorganizada, na informalidade. Isso é ruim porque o termômetro desta economia nunca é real, e diversas oportunidades deixam de ser geradas”, diz Vanessa Fagá.
A gerente do Sebrae acrescenta ainda que o número registrado pela Firjan de profissionais na Economia Criativa de Alagoas é insignificante diante do número de pessoas que de fato vivem no estado neste segmento. “Posso garantir que na informalidade este percentual é muito maior”, afirma Vanessa.
Segundo ela, diante do problema do entendimento sobre Economia Criativa e das consequências para o mercado alagoano, o Sebrae lançou um Termo de Referência da Economia Criativa em Alagoas. Confira aqui
“A publicação é um documento que tenta balizar informações sobre a Economia Criativa, mostrando oportunidades e ameaças do segmento, como também, os setores que abarcam profissionais”, explica Vanessa.
De acordo com ela, uma medida simples, mas necessária. “É comum relatos de profissionais autônomos, como artistas e artesãos que não conseguiram fechar negócios por não possuírem exigências mínimas do mercado para concorrer a editais públicos e vender serviços e produtos para o governo”, completa.
Mundo criativo
De acordo com o sociólogo Élder Patrick Maia, a criatividade não é um elemento exclusivo das atividades artísticas e culturais. Com isso, no mundo dos negócios ela pode abranger os mais variados setores, podendo ser incorporada aos diversos segmentos das práticas cotidianas das organizações públicas e privadas.
ocupa espaço decisivo para o desenvolvimento de
regiões (Foto: Ascom/Ufal)
“Algumas instituições passaram a usar o termo Economia Criativa para sugerir políticas industriais, urbanas e culturais, envolvendo a interface da tecnologia, da cultura e do entretenimento”, explica.
“A criatividade e a inovação se tornam cada vez mais valorizadas junto às atividades econômicas porque a criação de conteúdo cultural se tornou algo decisivo para o desenvolvimento de cidades e empresas”, afirma Maia.
Oportunidade de mercado
A internet também se tornou um aliado para o investimento na Economia Criativa, como é o caso da universitária Louise Freire. Ela largou o emprego fixo como professora de inglês para investir no hobby de família que virou negócio: a fabricação de acessórios de peças de crochê.
“Parei de dar aula para fazer crochê e, assim, estou vivendo do trabalho criativo. Pensei em fazer algo que me desse prazer e retorno financeiro. E foi por acaso que surgiu a ideia. Queria usar acessórios legais, mas não achava quem fizesse, então decidi fazer”, relata.
Segundo ela, que aposta na produção de peças estilizadas, o trabalho rende uma média de R$ 500 por mês. Valor menor do que seu antigo salário, mas que não é encarado como problema.
“Eu consigo pagar minhas contas com o dinheiro. Com o tempo acredito que o negócio vai crescer, pois a cada dia adquiro mais clientes. Alguns até mesmo fora do Brasil, em países como Bolívia, Estados Unidos e Irlanda. Clientes que foram adquiridos através das vendas feitas via rede social”, acrescenta.