Alagoanos encontram na Economia Criativa modelo rentável de negócio
Indústria criativa do estado é a menor do país, revela pesquisa da Firjan.
Sebrae questiona números e diz que setor precisa de formalização em AL.

Waldson Costa*Do G1 AL
Com apenas 0,7% de participação no mercado da Economia Criativa nacional, Alagoas é considerado um dos estados brasileiros com menor percentual de postos de trabalho formais vinculados ao setor, segundo um estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Mesmo assim, jovens alagoanos vêm apostando nesta área de segmento amplo e variado para transformar arte em um negócio rentável.
Chicus Felipe gerar renda com arte mesmo sem saber que participa da cadeia da Economia Criativa (Foto: Waldson Costa/G1)Chicus Felipe gera renda com arte mesmo sem saber que participa da cadeia da Economia Criativa (Foto: Waldson Costa/G1)

Apesar do entendimento ainda limitado dentro do mercado de trabalho e, até mesmo entre os profissionais inseridos no setor, a Economia Criativa, mecanismo de produção que tem as ‘ideias’ como recurso essencial para geração de valor, ganhou projeção no Brasil ao movimentar mais de R$ 126 bilhões, somente em 2013.
boom no mercado ajudou o país a alcançar, segundo dados do Mapeamento da Indústria Criativa do Brasil 2014, 892,5 mil postos de trabalho. É neste cenário, de uma velha economia repaginada na última década, que estão inseridos os alagoanos Francisco Felipe, Thales França, Gustavo Boroni e Louise Freire.

Sem saber ao certo como contribuem para a projeção da Economia Criativa, o artista plástico Francisco Felipe, o ‘Chicus Felipe’, e o designer gráfico, Thales França, concretizam ideias em produtos e serviços rentáveis, mesmo que ainda no mercado informal.
Chicus Felipe trabalha com ilustrações através da técnica zentangle e produz imagens sob encomenda para clientes diversos.
“O que for visual eu faço. Basta o cliente dizer o que quer para eu criar. Faço de quadros a painéis em parede. De ilustrações em skate a tatuagens”, diz Chicus, ao enfatizar que neste mundo dos negócios a sua dificuldade é mensurar o preço da ‘ideia’ que, após aplicada em produtos físicos, é vendida pelas redes sociais.
Também disposto ao desafio de criar e lucrar com suas produções, Thales França reproduz, emMaceió, um modelo de negócio que já é sucesso nos grandes centros urbanos: um estúdio de design gráfico onde o principal instrumento de trabalho são as ideias.

Thales França posa na frente de uma parede onde foi produzida uma de suas ilustrações (Foto: Waldson Costa/G1)Thales França posa na frente de uma parede onde foi produzida uma de suas ilustrações (Foto: Waldson Costa/G1)

“A ‘Art Skull’ (um trocadilho com palavras em inglês que pode ser traduzido para ‘Arte é Legal’) é uma empresa que criei para negociar minhas produções – ilustrações, pinturas digitais e a óleo, projetos de identidade visual e marcas etc”, explica França.
A inspiração para o modelo de negócios do designer veio do exterior. “Tudo é muito novo e os desafios são enormes porque o resultado final depende de fatores e situações que Maceió nem sempre oferece. Mesmo assim, acredito neste modelo de negócio porque é de fato o que desejo fazer da vida para ganhar dinheiro. Vi em viagens fora do país que lucrar com criatividade é possível”, expõe.

Gustavo Boroni divide o tempo entre criação e gestão do negócio que envolve fotografia e moda (Foto: Arquivo Gtech)Gustavo Boroni durante desfile da marca que une
fotografia e moda (Foto: Arquivo Gtech)

Já mais amadurecido no mercado criativo, o publicitário e fotógrafo Gustavo Boroni lançou em 2014 sua primeira coleção de moda onde o conceito do negócio é a fotografia como estampa para roupas.
“Reuni diversas habilidades que possuo dentro das artes visuais. Algo que não é uma tarefa fácil porque não tenho só que concretizar ideias. Para tudo dar certo preciso me dividir em todas as etapas do processo, da produção das artes até a escolha do material têxtil; da venda a logística de entrega dos produtos”, conta.
Segundo ele, investir na área da Economia Criativa vai muito além do talento. “É claro que é impossível entender de tudo. No entanto, é preciso saber um pouco de cada coisa para conseguir concretizar o negócio”, orienta Boroni.
Desafios
Porém, esses desafios não são os únicos para quem atua na Economia Criativa. É o que destaca a gerente da Unidade de Comércio e Serviços – Turismo e Economia Criativa do Sebrae Alagoas, Vanessa Fagá, ao expor que a maior dificuldade do segmento ainda é a informalidade, o desconhecimento sobre este modelo de economia e as potencialidades de geração de negócios.
“Os números da Economia Criativa levantados no país até o momento não traduzem bem a realidade porque muitas pessoas, primeiro, não sabem que estão inseridas neste segmento; segundo, porque atuam de forma desorganizada, na informalidade. Isso é ruim porque o termômetro desta economia nunca é real, e diversas oportunidades deixam de ser geradas”, diz Vanessa Fagá.
A gerente do Sebrae acrescenta ainda que o número registrado pela Firjan de profissionais na Economia Criativa de Alagoas é insignificante diante do número de pessoas que de fato vivem no estado neste segmento. “Posso garantir que na informalidade este percentual é muito maior”, afirma Vanessa.
Segundo ela, diante do problema do entendimento sobre Economia Criativa e das consequências para o mercado alagoano, o Sebrae lançou um Termo de Referência da Economia Criativa em Alagoas. Confira aqui

A gerente do Sebrae Vanessa Fagá (Foto: Waldson Costa/G1)Vanessa Fagá explica que na Economia Criativa talento precisa estar aliado a gestão (Foto: Waldson Costa/G1)

“A publicação é um documento que tenta balizar informações sobre a Economia Criativa, mostrando oportunidades e ameaças do segmento, como também, os setores que abarcam profissionais”, explica Vanessa.
De acordo com ela, uma medida simples, mas necessária. “É comum relatos de profissionais autônomos, como artistas e artesãos que não conseguiram fechar negócios por não possuírem exigências mínimas do mercado para concorrer a editais públicos e vender serviços e produtos para o governo”, completa.
Mundo criativo
De acordo com o sociólogo Élder Patrick Maia, a criatividade não é um elemento exclusivo das atividades artísticas e culturais. Com isso, no mundo dos negócios ela pode abranger os mais variados setores, podendo ser incorporada aos diversos segmentos das práticas cotidianas das organizações públicas e privadas.

Sociólogo e professor pesquisador Elder Alves avalia positivamente os rumos do mercado cultural em Alagoas (Foto: Ascom/Ufal)Sociólogo Élder Maia diz que a Economia Criativa
ocupa espaço decisivo para o desenvolvimento de
regiões  (Foto: Ascom/Ufal)

“Algumas instituições passaram a usar o termo Economia Criativa para sugerir políticas industriais, urbanas e culturais, envolvendo a interface da tecnologia, da cultura e do entretenimento”, explica.
“A criatividade e a inovação se tornam cada vez mais valorizadas junto às atividades econômicas porque a criação de conteúdo cultural se tornou algo decisivo para o desenvolvimento de cidades e empresas”, afirma Maia.
Oportunidade de mercado
A internet também se tornou um aliado para o investimento na Economia Criativa, como é o caso da universitária Louise Freire. Ela largou o emprego fixo como professora de inglês para investir no hobby de família que virou negócio: a fabricação de acessórios de peças de crochê.
“Parei de dar aula para fazer crochê e, assim, estou vivendo do trabalho criativo. Pensei em fazer algo que me desse prazer e retorno financeiro. E foi por acaso que surgiu a ideia. Queria usar acessórios legais, mas não achava quem fizesse, então decidi fazer”, relata.
Segundo ela, que aposta na produção de peças estilizadas, o trabalho rende uma média de R$ 500 por mês. Valor menor do que seu antigo salário, mas que não é encarado como problema.
“Eu consigo pagar minhas contas com o dinheiro. Com o tempo acredito que o negócio vai crescer, pois a cada dia adquiro mais clientes. Alguns até mesmo fora do Brasil, em países como Bolívia, Estados Unidos e Irlanda. Clientes que foram adquiridos através das vendas feitas via rede social”, acrescenta.

Louise (de pé) produz peças artesanais com apoio da tia e da mãe (Foto: Micaelle Morais/G1)
Louise (de pé) produz peças artesanais com apoio da tia e da mãe (Foto: Micaelle Morais/G1
fonte: http://g1.globo.com/al/alagoas/noticia/2015/02/alagoanos-encontram-na-economia-criativa-modelo-rentavel-de-negocio.html

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