Economia criativa tem potencial de expansão

Por Brasil Econômico |

Segmento movimenta R$ 110 bilhões anuais. Moda, arquitetura, novas mídias e turismo são alguns dos 20 setores selecionados pelo governo para fazer parte de programas de incentivo

Coordenador-Geral de Ações Estruturantes da Secretaria de Economia Criativa do Ministério da Cultura, Gabriel Bortolini de Lucena esbanja otimismo ao comentar as possibilidades do setor no Brasil: “Os números são positivos quanto à participação no Produto Interno Bruto. São R$ 110 bilhões anuais”. Vai a mais, R$ 735 bilhões, ou 18% do PIB, se considerada a cadeia produtiva. “Os setores baseados na criatividade e na cultura estavam e estão tendo expansão superior à média, o que chamou a atenção não apenas na Cultura, mas em outras pastas, como Desenvolvimento e Ciência, Tecnologia & Inovação”, acrescenta.

Divulgação/Marcio Madeira
Coleção de inverno 2014 da marca Herchcovitch. Moda está entre os 20 setores selecionados pelo governo para fazer parte de programas de incentivo à Economia Criativa

A incorporação de consumidores de camadas de renda mais baixa, com demanda reprimida por bens culturais, pesou para esse desempenho, mas outros fatores interferiram. “A agregação de valor a bens e serviços está mudando em todo o planeta. O valor agregado do design cresceu exponencialmente, por conta das exigências dos novos consumidores. O papel do design tornou-se essencial para a indústria no geral. A sociedade criativa é a marca do novo milênio”, avalia Lucena.
A partir da constatação de que o valor vai muito além da funcionalidade, do uso imediato, o governo federal definiu 20 setores para incentivar na economia criativa. O rol inclui os setores artísticos, as plataformas ou veículos (TV, rádio, games, gráfico-editorial, espetáculos e audiovisual) e áreas de serviços como moda, arquitetura, redes sociais, nova mídia, gastronomia, eventos, turismo cultural. “Estão aí alguns dos setores que mais crescem e mais geram empregos no mundo”, diz Lucena.
Na hora de pensar a política pública para o setor,o governo teve que identificar vocações. “Estudamos o modelo australiano e o modelo inglês de incentivos. O Brasil está percebendo agora a cultura como soft power, fator de influência em mercados no exterior. Os EUA, com Hollywood e o peso da indústria cinematográfica, tem mais de um século de tradição na formulação dessa política”.
No Brasil, para alavancar esse salto internacional, existem dois grandes obstáculos: falta formação em gestão cultural, pública ou privada, e a formalização atinge só um terço dos empregos gerados. Qualquer política cultural digna desse nome teria que envolver um investimento em qualificação, de base nacional, e incentivos à formalização de empresas, empregos e empreendedores, para ampliar as garantias dos trabalhadores e garantir constância de desempenho no setor. “Uma parte do desafio está sendo vencido com a sustentação baseada em editais, que acabaram com a política de balcão, de pedido individual e decisão relativamente arbitrária sobre quem merece apoio”, explica Lucena. O obstáculo remanescente, nem um pouco desprezível, é que os projetos têm lógica fragmentária, isolada, por definição. “Falta construir um modelo de capital-semente, de crowdfunding (aporte voluntário de fãs ou investidores na organização de um evento ou lançamento de um produto), investidor-anjo, como se desenvolveu na área de Tecnologia da Informação (TI)”, diz.
Um passo na direção de um modelo mais perene de financiamento do que a análise projeto a projeto é o lançamento das Incubadoras Brasil Criativo. Treze em todo o país, começando pelo Pará, as incubadoras visam transpor o modelo do Parque Tecnológico para a Indústria Cultural. A partilha de infraestrutura administrativa e operacional, reduzindo custos, se combina com a possibilidade de interagir cotidianamente com produtores culturais e criadores em diferentes áreas.

A Rede de Incubadoras Brasil Criativo levará, até o final do ano, a 13 estados brasileiros, soluções integradas para facilitar a decolagem de empresas culturais. Num mesmo espaço, será possível tratar de crédito, registro em juntas comerciais e adesão a programas e cusrsos do Sebrae. A formação técnica, de nível médio, receberá bolsas do Pronatec Cultura, ao mesmo tempo em que funcionará um balcão de empregos na área. A cooperação com universidades estaduais, Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e o Sebrae permitirá a oferta de consultorias e cursos de planejamento estratégico, marketing, branding e gestão. A assessoria jurídica ficará a cargo das Faculdades de Direito das Universidades Estaduais. “Será uma espécie de ecossistema favorável, a Casa do Empreendedor Cultural Brasileiro. O trabalho colaborativo e a interação constante permitirão a derrubada dos limites entre os setores, num ambiente cooperativo. O coworking e as iniciativas multissetoriais deverão prevalecer”, prevê o secretário. Para acompanhar o lançamento das incubadoras regionais, estão sendo organizadas rodadas de negócios. A primeira ocorreu em Belém, estando previstas novas rodadas em fevereiro em Goiás e março na Bahia, Rio e Rio Grande do Sul. São R$ 33 milhões em convênios já firmados.

Leia tudo sobre: brasil econômico • setor criativo

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui