Documentário sobre Sebastião Salgado abre festival de cinema ambiental
Dirigido por Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado, filho mais velho do fotógrafo, documentário ‘O Sal da Terra’ conta como as experiências ao longo da carreira mudaram a vida de “Tião”
POR RENNAN A. JULIO I EDIÇÃO: VINICIUS GALERA DE ARRUDA

cultura_sebastião_salgado_sal_da_terra (Foto: Divulgação)

Para dar abertura à 4ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental, os organizadores exibiram O sal da terra, documentário em longa-metragem que conta a história de Sebastião Salgado, considerado um dos maiores fotógrafos em atividade. O trabalho dirigido por Wim Wenders, renomado diretor alemão, e Juliano Ribeiro Salgado, filho mais velho de ‘Tião’, segue a trajetória do artista ao longo dos seus mais de 30 anos de carreira.
Para bater um papo com jornalistas, foram convidados Juliano Ribeiro Salgado e David Rosier, produtor do documentário. Sebastião e Lélia Wanick Salgado não conseguiram participar do evento, pois Leny Wanick Mattos, irmã de Lélia, morreu em um acidente de carro na manhã de terça-feira (17/3). Sobre o caso, Juliano comentou: “É tão tragicamente irônico o que aconteceu com a minha tia. Ela viajou com a gente, participou do filme em uma das primeiras cenas, estava totalmente envolvida com o projeto. E isso acontece logo agora que o filme chega ao Brasil. Realmente dramático”.
Além de ter sido indicado ao Oscar de 2015 por Melhor Documentário, O sal da terra também conseguiu levar alguns prêmios para casa, como no Festival de Cannes, onde conquistou o leão dourado na categoria “Um Certo Olhar”. A “biografia dramatúrgica”, como Juliano define, passa pelos principais momentos da vida de Sebastião Salgado. Desde sua criação rural em Aimorés (MG), passando pela formação no curso de Economia pela Universidade de São Paulo, até a difícil decisão de deixar os escritórios para sair “clicando” realidades totalmente diferentes da sua.

cultura_sebastião_salgado_sal_da_terra (Foto: Editora Globo/Rennan A. Julio)

 
No longa, percebe-se como as escolhas de Sebastião Salgado foram difíceis e importantes para a sua vida. “Fica claro que cada pessoa que meu pai conhece e cada história que ele compartilha afeta sua personalidade”, conta o filho. Uma dessas decisões, inclusive, afetou seu relacionamento com Juliano. “Meu pai foi muito distante na minha infância. Tinha a impressão de que ele era um super-herói, mas nossa relação nunca foi boa”.
Como queria se reaproximar do filho, Sebastião convidou Juliano para uma viagem ao Pará, onde iria realizar um trabalho fotográfico. Segundo Juliano, essa seria uma situação difícil, em que “pai e filho se encontrariam trancafiados por muito tempo”. Mas foi nesse momento que o filme nasceu: “Decidi levar minha câmera para tentar gravar um pouco do Sebastião Salgado trabalhando”.
Ao mostrar o curta de 20 e poucos minutos para o seu pai, Juliano se surpreendeu: “Ele começou a chorar, nem conseguia falar. Gostou muito do resultado e eu fiquei muito feliz. Foi um momento muito importante pra mim”. Depois disso, Wim Wenders, amigo e fã do fotógrafo, foi convidado para participar do projeto.

cultura_sebastião_salgado_sal_da_terra (Foto: Divulgação)

O campo como salvação
Em um dos momentos mais tristes do filme, Salgado conta como ficou abatido com seu trabalho em Ruanda, na África, quando tirava fotos para o futuramente premiado ensaio “Êxodos”. “Meu pai ficou muito mal depois de Ruanda. As cenas que viu, o momento político do país, a quantidade de pessoas mortas [a história completa pode ser conferida no filme], tudo aquilo o deixou em uma terrível depressão”, conta Juliano.
Ao retornar ao Brasil, procurando repouso na fazenda da família no interior de Minas Gerais, Sebastião também se abateu com a seca que atacava as terras de Aimorés. Nesse momento, Lélia Wanick Salgado, companheira de Tião desde os 17 anos, sugeriu: “Vamos tentar recuperar as nossas florestas?”. Dessa simples pergunta nasceu o Instituto Terra, trabalho focado no reflorestamento e que, em 2015, já conseguiu plantar mais de 2,5 milhões de árvores e recuperar seis mil nascentes de uma área considerada “morta”.
“O Instituto Terra foi tão fundamental para meu pai voltar a ser feliz. Todo o trabalho realizado naquela região foi o que mais o motivou a criar seu último grande trabalho, o ‘Gênesis’”, afirma Juliano Ribeiro Salgado. Neste ensaio, o fotógrafo viajou o mundo inteiro para retratar novos temas, como a vida selvagem e a natureza. “Falavam que não iria conseguir sair da fotografia social, que não devia me arriscar em outro meio. Mas eu queria aprender, por isso fui atrás e viajei o mundo atrás de novas histórias – agora nesse meio”, conta Sebastião Salgado ao longo do documentário.
​Carreira
Aos 71 anos de idade, o fotógrafo “deve parar com os projetos de longa duração”, diz Juliano. Para o filho, Tião vai focar seus esforços em tribos indígenas brasileiras nos próximos trabalhos e em projetos menores. Mesmo assim, perguntado se Sebastião Salgado tem planos para um próximo ensaio de proporções “épicas”, Juliano responde: “Olha, meu pai, aos 71 anos de idade, possui uma saúde melhor do que a da grande maioria das pessoas dessa sala. Tratando-se de Sebastião Salgado, não posso afirmar nada… Vamos esperar para ver, que tal?”.
fonte: http://revistagloborural.globo.com/Noticias/Cultura/noticia/2015/03/documentario-sobre-sebastiao-salgado-abre-festival-de-cinema-ambiental.html

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