Por Helder Ronan de Souza Mourão e/Observatório da Imprensa

Como de costume, a cultura de massa padroniza os produtos culturais e, no máximo, aproveita-se de algumas características locais para dar identidade (aparência) a suas reproduções locais.
O cinema brasileiro não foge a essa regra (que se pretende universal). Jean-Claude Bernardet é enfático ao afirmar: “Não é possível entender qualquer coisa que seja do cinema brasileiro se não se tiver em mente a presença maciça e agressiva, no mercado interno, do filme estrangeiro.” Os grandes filmes comerciais são notoriamente influenciados por Hollywood e os curtas-metragens, pela filmografia francesa e italiana. Porém, em um primeiro momento, quero destacar que em alguns casos essa apropriação foi mais criativa e benéfica do que comercial. Temos como exemplo o Cinema Novo e especialmente os filmes de Glauber Rocha, que tanto do ponto de vista estético, quando do conteúdo propriamente dito, resultaram em belíssimas contribuições à arte cinematográfica e ao conhecimento acerca do Brasil.
Enquanto os filmes estrangeiros, em especial os norte-americanos, descreviam e até mesmo caricaturavam suas regiões, o Brasil assistia e começava a aprender o modelo, incluído na lógica estética hollywoodiana.Porém, nosso país assistiu aos filmes sobre os guetos e a situação dos negros norte-americanos e percebeu a necessidade de mostrar nossa realidade. Em um primeiro momento, a região nordestina foi filmada e explorada. Depois, a favela foi ricamente apropriada pelo cinema local (no atual momento se tenta filmar a Amazônia). Isso sem citar a apropriação, talvez tardia, da estética de guerra e pós-guerra. Não vou me aprofundar nesse tema, mas deixo como dica de leitura os livros O rural no cinema brasileiro, de Célia Tolentino, e The new brazilian cinema, de Ivana Bentes, da qual a segunda dedica um capítulo intitulado “The sertão and the favela in contemporary Brazilian Film”.
Levantei resumidamente essa discussão para falar de um único filme a ser lançado esse mês, exemplo de apropriação estética empobrecida, seja na forma ou conteúdo, para ser luckcacsiano. Trata-se de Copa de Elite, dirigido por Vitor Brandt (distribuído pela Fox Filmes). Ao estilo das comédias, muito comuns, que satirizam outros filmes, essa produção segue a mesma linha. A princípio as possibilidades estéticas da crítica e sátira abrem-se em potencial nesse filme. Porém, o que desde já podemos notar é a ausência de um sentido que não o da própria comédia sem conteúdo, filme pré-moldado, encomenda fácil de fora. “Clássicos” desse “gênero” como Todo mundo em Pânico e Histeria são as mais notórias produções, da qual se inaugura no Brasil, no próximo dia 17/04 uma nova/velha forma de fazer cinema “local”.
Referências:
BERNARDET, Jean-Claude. Cinema brasileiro, propostas para uma história; ed. Paz e Terra, 1978.
BENTES, Ivana. “The sertão and the favela in contemporary Brazilian Film”. In: NAGIB, Lúcia (Org.). The new brazilian cinema. New York: the centre for brazilian studies, University of Oxford, 2003.
TOLENTINO, Célia. O rural no cinema brasileiro, São Paulo, ed. Unesp, 2001.
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Helder Ronan de Souza Mourão é jornalista e estudante do mestrado em Ciências da Comunicação na área de cinema

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