Quem tem medo da crise?

O ano de 2015 não começou muito otimista para o mercado cultural, e termina com previsões ainda mais preocupantes. Cortes nos orçamentos das empresas privadas e das instituições públicas provocaram atrasos nos lançamentos de editais e dificuldades na captação de recursos para o desenvolvimento de projetos, instabilidades políticas levaram até à especulação de que o Ministério da Cultura poderia ser fechado.
Foto: Gisela GiardinoJá é tradição no Cultura e Mercado, na última semana do ano em que publicamos notícias, uma matéria especial com avaliação e perspectivas para o setor cultural. Neste ano, buscamos profissionais que de alguma maneira conseguiram ser bem-sucedidos em suas áreas de atuação, mesmo em uma época tão turbulenta. Eles falam sobre as dificuldades, mas apontam caminhos para que, em 2016, a cultura consiga superar todos os obstáculos que se anunciam.
Confira abaixo os depoimentos, em ordem alfabética:
Alfredo Manevy, diretor-presidente da Spcine, empresa de fomento ao audiovisual paulista, lançada em janeiro de 2015. Durante o ano, a Spcine lançou, entre outras iniciativas, programa de investimento para produção e distribuição de longas, concurso de curta-metragem, promoveu workshops e seminários e assinou acordos de cooperação internacionais. 
“Foi um ano melhor do que muitos prognósticos negativos sugeriam. Conseguimos inaugurar a Spcine e investir em mais de 48 produções e lançamentos de obras audiovisuais. Para fevereiro, temos a inauguração das primeiras 20 salas públicas de cinema, sendo a maioria na periferia de São Paulo. Estamos num ótimo momento do audiovisual paulista e brasileiro. Além de tudo, um dos nossos filmes apoiados – ‘Que Horas Ela Volta?’ – é considerado um dos grandes filmes do ano.
Acho que o setor cultural tem grande papel na estabilidade democrática. Quem produz cultura vive e respira liberdades, direitos, e necessita de uma sociedade que respeita a alteridade. O que a cultura conquistou em termos de investimentos – e o que precisa ainda conquistar – será possível manter em 2016, se for num ambiente efetivamente democrático. Por isso, a maior ameaça à produção cultural – e a sociedade – é o acirramento da intolerância e a ameaça ao rito democrático que está em curso em 2015 no Brasil. A postura que o mercado cultural pode ter em relação ao ano que vem por aí é incentivar cada vez mais ações de interconexões entre áreas, atores da cadeia artística, formatos, linguagens e tecnologias, gerando assim novos modelos de negócio. Da mesma forma que o audiovisual se resignifica a todo instante, investindo em novas formas de distribuição de conteúdo que vão além da tela do cinema, vejo outros segmentos artísticos seguindo o mesmo caminho. Estar dentro de um ambiente de convergência é necessário e estratégico.”
Diego Reeberg, sócio-fundador do Catarse, maior plataforma de crowdfunding do Brasil. Em 2015, em comparação com o ano anterior, houve crescimento de 10% em arrecadação nos projetos que fizeram campanha na plataforma. 
“Definitivamente, 2015 foi um ano melhor. Mais pessoas se engajaram com projetos de crowdfunding no Brasil, fazendo com que esse seja um modelo cada vez mais abraçado em diversos setores culturais. O crowdfunding tem deixado de ser apenas uma alternativa para o financiamento de projetos para, em muitos casos, ser a primeira opção. Um dos motivos para isso é a constatação de que o modelo vai para além da captação dos recursos para financiar um projeto. O crowdfunding é um instrumento forte de campanha de comunicação e engajamento com comunidades de fãs.
Um caso relevante é o do Apanhador Só, banda que captou mais de R$100.000 não apenas para financiar o seu próximo álbum, mas para viajar pela casa de seus fãs e fortalecer o relacionamento com eles. É uma nova forma de se relacionar, é uma inovação que vai ao encontro de mudanças sociais que temos visto: empoderamento (maior participação das pessoas nas decisões sobre o que deve e o que não deve existir), consumo consciente, relações horizontais, menos intermediários
Acredito que as pessoas precisam de mais coragem. Vejo muita gente acostumada às estruturas que sempre existiram (intermediários, financiadores governamentais, patrocínios que aprisionam – e que podem esgotar em um cenário de crise) e com medo de arriscar, de colocar a cara à tapa, de investir em construir relações mais duradouras, pautadas por uma postura horizontal e de diálogo mais honesto com quem o cerca, principalmente o público. Acredito que autenticidade e transparência são fundamentais para triunfar num cenário nebuloso. E vejo o crowdfunding como uma saída potente para os diversos agentes do setor.
O Banco Mundial apontou no seu relatório sobre o Potencial do Crowdfunding para o Mundo em Desenvolvimento que o fortalecimento do crowdfunding se deu como resposta à crise financeira de 2008. Isso acontece não só pela alternativa de financiamento que ele traz, mas também pelo formato, onde há menos barreiras para os empreendedores/artistas acessarem o seu público de interesse e de colher feedbacks e recursos financeiros de forma ágil e segura.”
Erick Krulikowski, sócio-diretor da iSetor, consultoria em gestão integrada, criação, desenvolvimento e implementação de projetos, com forte atuação no setor cultural. Em 2015, viajou por diversos estados brasileiros em cursos, seminários e eventos de capacitação e desenvolvimento das áreas audiovisual e musical.
“2015 mostrou-se um ano um pouco pior do que o imaginado para o setor cultural. Já havíamos imaginado que a crise econômica, cedo ou tarde, impactaria o setor, já que as empresas teriam menos condições de investir. Entretanto, com o agravamento da crise, empresas e governos ficaram ainda mais vulneráveis, sendo necessário adequar ou mesmo cancelar a execução de programas e projetos na área. No primeiro semestre de 2015, por exemplo, diversas organizações tiveram que cortar postos e diminuir atividades pelo Brasil todo. Diria que o mês de março foi um mês negro para a cultura, principalmente em São Paulo, onde foram realizados diversos cortes em organizações como o Poiesis, Pinacoteca e Museu Afro Brasil. E essa situação continuou no segundo semestre, terminando com a própria Funarte admitindo que não tinha recursos para o pagamento dos editais abertos.
A razão é muito simples: a economia travou, o governo arrecada pouco, e é obrigado a cortar gastos. E onde cortar primeiro? Cultura, claro. O impacto ainda podia ter sido maior. O que de alguma forma ajudou a muitas organizações foi o fato de que os investimentos por meio da Rouanet foram realizados no final de 2014, ainda em um período quando a crise não era tão evidente. Esses recursos serviram para custear diversas atividades no decorrer de 2015, contribuindo para que a situação não fosse pior. Apenas um dos setores não foi impactado: o do audiovisual, que tem um fundo como o FSA, de certa forma protegido, o que garantiu a possibilidade de financiamento contínuo para o setor. De todos os segmentos criativos, este é o que mais cresceu e ainda continuará com recursos para os próximos anos – pelo menos é o que se espera.
Acredito que o ano de 2016 será, para aqueles que trabalham com a Rouanet, ainda mais difícil. Em 2015, diversas empresas que tradicionalmente investem em cultura estão tendo problemas, como as construtoras e as mineradoras. A crise ainda deverá se prolongar durante o primeiro semestre, mas em algum momento do ano que vem a ‘chave’ deverá virar – até por conta das eleições municipais. O importante é saber que uma hora a crise vai passar e que o país vai voltar a crescer, e aqueles que estão atentos aos movimentos do mercado podem se sair bem. Assim, é importante recuar, buscar aguentar o ‘tranco’ até essa tempestade acabar e voltar mais fortalecido ao mercado. Apesar de ser um momento crítico, considero que é o momento ideal para repensar o que fazemos e a forma como fazemos, tirando proveito da crise para rever nossos projetos e negócios. É o momento de mudar, de reciclar, de mudar paradigmas, de pensar em novas formas de fazer as coisas, de inovar. Uma crise como essa pode ser boa para mudar as regras do jogo e colocar algumas coisas em seus devidos lugares – cabe a nós percebermos essa oportunidade e aproveitarmos dessa mudança em nosso favor.”
Eugênio Lima, membro fundador do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos e da Frente 3 de Fevereiro, integrante da banda CORA-Orquestra de Grooves Afrobrasileira, DJ, Ator-MC, pesquisador da cultura afro-diásporica. No final de 2014, seu grupo de teatro (Bartolomeu) foi obrigado a deixar o espaço que ocupava há oito anos, vendido a uma incorporadora imobiliária. Neste ano, ganhou edital de ocupação no Teatro de Arena da Funarte.

“Eu considero que em virtude da situação crítica, tanto política quanto econômica, anunciada no início do ano, a tal paralisia do setor cultural não aconteceu de fato. A tragédia, portanto, no meu entender, não foi a realidade ao longo do ano. Neste sentido o ano foi melhor do que eu esperava, pois a expectativa estava muito baixa. Isso não quer dizer que não houve retração, mas como no ano passado tivemos eleições para presidente, Copa do Mundo e uma série complexa de protestos políticos de cunho profundamente conservador, o ano de 2014 não foi um ano muito intenso no setor cultural como um todo, apenas para uma pequena parte que operou próxima do ‘mainstream’. Tal fato já contaminou a perspectiva de uma política cultural efetiva, seja por parte do poder público, seja pela ausência de visão cultural de longo prazo do setor privado, que na sua grande maioria pensa em ações de curto prazo, com a lógica do mercado de ações, no qual o próprio conceito de cultura é tratado como uma ‘commodity’.
O que acho que poderia ter acontecido de maneira efetiva, por diferentes formas, seria um tratamento da política cultural como um todo (estado, união, município, setores privados, institutos culturais) como parte fundamental da sociedade brasileira. Neste contexto a retração de verbas, tanto do setor público quanto do setor privado, causa um espécie de efeito dominó, tanto do ponto de vista econômico quanto do ponto de vista da criação de imaginário.
Sinceramente, hoje acho que o ano 2016 tende a ser complexo para o setor cultural, primeiro porque o planejamento por parte do poder público vai ser de curto prazo, em virtude da queda da arrecadação. Esta é uma realidade também para a maioria das instituições privadas, dentro de determinadas instituições culturais, como o SESC, que anunciou uma queda na contribuição do setor. Outro fator complicado é que teremos eleições municipais, num cenário político muito acirrado. E principalmente em virtude da paralisia política, não foi feita uma reformulação das leis que regulam o financiamento do setor cultural, o que deixa a margem de manobra muito pequena para grandes mudanças. Mas mesmo diante de tudo isso, levando em conta o grau de instabilidade da situação nacional, acho que se não houver nenhuma quebra institucional, o ano de 2016 tende a ser mais profícuo do que os anos anteriores.
Para mudar este cenário, precisaríamos criar condições para que haja: 1) uma reformulação legal dos mecanismos de financiamento privado para o setor cultural;
2) uma visão do poder público como um todo de que se faz necessário uma política pública de estado para a cultura de longo prazo, e não apenas programas de governo, que mudam a cada nova gestão; 3) um novo olhar das diversas instituições culturais, na direção de um plano de ação conjunta entre elas e os diversos agentes culturais, principalmente no que diz respeito à relação entre artistas e as instituições, incluir os artistas na esfera decisória dos programas culturais; 4) uma maior democratização das diversas expressões artísticas no contexto educacional, sair da cisão entre educação e cultura; 5) uma mobilização dos diversos setores culturais para que a população seja parte ativa na formulação das políticas culturais, sejam elas públicas ou privadas.”
Fabiano Gullane, sócio-diretor da Gullane, produtora de conteúdo para cinema e televisão responsável por sucessos como Bicho de Sete Cabeças, Carandiru, O Ano Em que Meus Pais Saíram de Férias, Até Que a Sorte Nos Separe e do premiado Que Horas Ela Volta, que concorre a melhor filme estrangeiro no 21º Critics’ Choice Awards, premiação organizada pelos críticos cinematográficos dos EUA e do Canadá, uma das mais importantes depois do Oscar e do Globo de Ouro.

“Especificamente no caso do audiovisual o mercado está construído em cima de três pilares, fontes principais de recursos que mantêm a indústria em funcionamento. O primeiro são as distribuidoras e canais de televisão, o segundo são os recursos estatais (FSA, editais, recursos diretos da Ancine, Ministério e Secretarias) e o terceiro são os recursos incentivados por meio do artigo 1º e ICMS. O que percebemos é que os recursos provenientes do próprio mercado, distribuidoras, canais de TV e estatais de certa forma compensaram a falta de captação de recursos como Art. 1°, ICMS ou outras leis de lucro das empresas. Com isso o mercado se manteve de forma satisfatória em 2015, em termos de produção.
Porém, como os dois últimos anos não foram tão bons para a captação de recursos, imaginamos que em 2016 ou 2017 ocorra uma queda de produção em função da verba que não está sendo captada para os projetos futuros, e esse é um dos nossos receios. Mesmo diante desse cenário, estamos estudando as possiblidades e criando diálogos com as empresas. A resposta que temos é que elas continuam interessadas, mas muitas delas não estão apresentando resultados financeiros favoráveis que as possibilitem continuar investindo. Então, apesar de entendermos que em 2016 ainda teremos uma parcela de turbulência financeira, esperamos que esse cenário macroeconômico se reverta rapidamente para voltarmos ao momento positivo que estávamos vivendo de 2010 a 2013.
Em termos de lançamento e comercialização, 2015 não foi um ano incrível para o cinema brasileiro. Foi um ano em que o consumo de cinema cresceu, mas não atingiu o seu potencial. Além disso, percebemos que o mercado cinematográfico apresentou um certo crescimento, mas o cinema brasileiro, especificamente, não. Apesar de ter sido um ano complexo, todos na indústria cinematográfica estão motivados. Existe uma maturidade nas leis de incentivo e nos mecanismos de financiamento e com isso se estabeleceu uma política de muita qualidade e competência que tem resguardado a continuidade do mercado audiovisual. Mas, obviamente, dependemos do cenário macroeconômico para dar passos largos de crescimento.
No Brasil nós convivemos com crises há muitos anos. Obviamente, somos afetados pela crise macroeconômica, principalmente pelo financiamento e consumo de cinema e produtos audiovisuais, mas de qualquer maneira temos sido muito menos atingidos do que os outros setores. A posição da Gullane é a de que não há outra alternativa além de continuar acreditando e investindo, contribuindo com a nossa parte para que esse mercado se solidifique cada vez mais.
Nós brasileiros, produtores culturais ou demais áreas, não podemos ter medo da crise. Não podemos ficar intimidados por problemas ou por questões burocráticas, porque se não a atividade para. Então, está nas mãos dos produtores e realizadores continuar trabalhando, de forma objetiva e motivada, para passarmos pelo ano de 2016 conscientes de que não vamos crescer muito, mas sem diminuirmos a nossa produção também. Esse será o grande desafio.”
Facundo Guerra, sócio do Grupo Vegas, proprietário na capital paulista do bar Riviera e das casas noturnas Lions, Yatch e Cine Joia. Em 2015, além de reinaugurar o bar Z Carniceria, agora no espaço que já abrigou a lendária casa de shows Aeroanta, o grupo foi responsável pela abertura do Mirante 9 de Julho, ícone abandonado na região da Avenida Paulista, em uma parceria público-privada com a prefeitura da cidade.
“Acho que o final do ano foi pior do que o ano passado. Tenho visto meu mercado sofrer muito com crise, especialmente a área de restaurantes. Não são poucos que estão fechando ou ameaçados de fechamento. Em outras áreas, foi melhor. Como tenho investimentos em diversas áreas de entretenimento, no balanço geral me salvei no break-even. A instabilidade política e financeira tem abatido a todos, sem exceção: mesmo os que não sofreram com a crise, que não são poucos, psicologicamente estão segurando os gastos com receio do futuro.
Profissionalizar ainda mais a profissão, que em meio é ainda um pouco amadora, é o que os agentes culturais, produtores, artistas, empreendedores podem e devem fazer para que o setor cultural de maneira geral consiga caminhar e até melhorar em 2016. Investir em produtos que tenham ótima relação custo-benefício para o consumidor e dispensar supérfluos, que até pouco tempo só serviam pra estofar o produto final.”
João Varella, sócio-fundador da editora Lote 42 e da Banca Tatuí (banca de publicações independentes na região central da capital paulista). Um dos principais destaques no mercado editorial nos últimos anos, por sua atuação sempre inovadora nos formatos das publicações e nas ações de comunicação com o público, a Lote 42 lançou em 2015 seis novos livros (de um catálogo de 12 desde a sua fundação, em 2012), um fanzine, além de ampliar a participação em feiras de publicações independentes e eventos na Banca Tatuí.
“As grandes editoras brasileiras deram vistosos sinais de piora. Alguns exemplos são o passaralho na Rocco e na Prol, um rolo danado da Ática com a Somos Educação, fechamento da Cosac Naify, Objetiva sendo engolida pelo conglomerado Penguin/Random House/Cia das Letras. Já no caso do universo independente, há importantes sinais de melhorias vistas na proliferação de feiras e eventos relacionados à produção impressa. A maioria dos editores com quem converso se queixa do excesso de trabalho mais do que da falta. Isso acontece em razão da crise econômica e ao modelo engessado das editoras tradicionais, que dependem das compras do governo para sustentar sua estrutura. A solução para isso estaria num governo que atentasse para as mudanças estruturais que o Brasil clama há anos e na formação de um público leitor consistente. Esse esforço deve partir do governo sim, mas sem dúvida precisa envolver as editoras, livrarias e toda a cadeia do livro.
As grandes editoras devem parar de empurrar best-sellers de atrizes, músicos, comediantes e youtubers. A preocupação deveria estar em formar uma geração de escritores de qualidade para que o Brasil fosse exportador de literatura – hoje somos um dos maiores importadores, com as traduções dominando a lista dos mais vendidos desde sempre. No caso das independentes, é hora de lidar com as dores do crescimento. Profissionalizar a gestão da editora é chato, mas necessário para quem deseja incrementar os resultados e viver da própria editora.”
Pena Schmidt, produtor musical, assumiu no final de 2014 a direção geral do Centro Cultural São Paulo. Sua proposta é ajudar na percepção de que cultura também é o exercício da cidadania. Em 2015, conseguiu levar mais atividades ao espaço, incluindo a Semana Internacional de Música de São Paulo, um dos principais eventos sobre esse mercado na América Latina. Está à frente de um grupo que busca pensar novos caminhos para a música na capital paulista e no país.

“2015 pode ter sido pior no varejo, na implementação fraca devido a cortes de orçamento, mas foi um ano de avanços importantes em questões estratégicas, estruturantes, de ordem interna e externa. Discussões sobre território, economia da cultura, fomentos, planejamento e gestão entraram na pauta e definem pontos de inflexão, que podem alterar nosso modo de ser e fazer na cultura.
Aprofundar a discussão, até porque é o que temos, a possibilidade de executar, pode ser a grande caminhada de 2016. Isso talvez nos leve a um lugar melhor planejado, com mais troca e colaboração como prática diária, com mais integração de todos os sistemas da cultura, mais eficiente pela busca de processos e parcerias multiplicadoras, e isso seria melhorar bastante.”
Rafaela Cappai, atriz, bailarina, comunicadora e empreendedora criativa à frente da Espaçonave, mestre em Empreendedorismo Cultural e Criativo pela Goldsmiths University of London. Comanda o Decolalab, curso online voltado a empreendedores culturais e criativos. Em 2015, foram 409 inscritos no curso (em 2014, foram 115).
“Para o meu trabalho especificamente o ano foi incrível, bem acima das minhas expectativas. E acho que isso tem a ver com a crise e com as possibilidades de financiamento sendo cortadas completamente ou diminuídas. O que eu sinto é que muitos artistas estão buscando financiar o seu trabalho diretamente com o público consumidor, sem passar pelos canais de financiamento público. As pessoas estão buscando alternativas e isso fez com que o conceito de empreendedorismo criativo com o qual eu trabalho (e que inclui também artistas) ficasse mais em voga e fosse uma opção.
Acho então que esse é o caminho e o lado bom dessa crise, já que toda crise tem dois lados. Que é permitir que artistas e agentes culturais comecem a pesquisar e construir outros jeitos de financiar os seus trabalhos e que o finaciamento público passe a ser uma das muitas entradas financeiras que cada um de nós possui. Então há duas estratégias que eu acredito serem super válidas para esse momento: 1) desenvolvimento de público e relacionamento constante com as pessoas que curtem e consomem o seu trabalho (não há como errar com essa) e 2) versatilização de entradas financeiras, que é buscar entradas diversas para a construção de carreiras e negócios culturais mais sustentáveis.”
Rogério Gallo, vice-presidente do núcleo de entretenimento da Turner do Brasil, responsável pela programação, criação e gestão operacional on air dos canais TNT, TNT Séries, Warner Channel, Space, TCM e TBS. Em 2015, conseguiu produzir todos os conteúdos originais previstos para os canais, além de adquirir produtos importantes, como os direitos de exibição da UEFA Champions League no Brasil. 
“Levando em conta tudo o que aconteceu no Brasil, do ponto de vista econômico e político, eu diria que a gente passou bem. Claro que a gente sentiu uma retração no mercado, mas tirando algumas situações pontuais, em termos de faturamento, os nossos números foram bastante bons no fim das contas. Tivemos um aumento de audiência significativo, conseguimos muitas propriedades impoirtantes em termos de aquisição, começamos a produzir localmente conteúdo original. Então, em termos de conteúdo e performance dos canais, os números foram muito bons.
Acredito que para o setor cultural em geral conseguir se manter e até melhorar em 2016, a grande saída é realmente tentar trabalhar e fazer projetos sem depender tanto de dinheiro público, tanto financiamento direto das empresas públicas quanto incentivado. Me parece que hoje todo o setor cultural no Brasil está extremamente dependente desse tipo de financiamento, e a gente sabe que o cenário não é dos mais promissores. Então, eu diria que o grande objetivo deveria ser buscar novos modelos de financiamento, tentar equacionar as produções de outra maneira, para que não exista tanta dependência desse tipo de dinheiro.”
Romulo Fróes, compositor, cantor e produtor musical. Em 2015, lançou um disco solo, um com seu grupo Passo Torto, um vinil, gravou um CD em homenagem a Nelson Cavaquinho (a ser lançado em 2016), fez direção artística de álbuns de outros três artistas (Rodrigo Campos, Clima e o mais recente da cantora Elza Soares) e trilha sonora para uma peça teatral (Labirinto, em cartaz no Rio de Janeiro). Além disso, foi curador de um projeto mensal sobre música no Centro Universitário Maria Antônia e participou de diversas apresentações ao vivo.
“É curioso, mas tendo construído minha carreira em plena crise da indústria fonográfica, acompanhada por uma ininterrupta transformação das tecnologias de gravação e difusão, em meio ao advento da internet, faz muito tempo que aprendi a não criar expectativas, sob o risco quase certo de serem frustradas. O que aprendi foi a ficar em estado permanente de alerta aos novos meios e formatos de produzir e difundir um trabalho musical, que invariavelmente surgem a cada ano. Dito isso, contra todos os prognósticos, num ano de crise intensa como o este que vivemos, 2015 foi o melhor ano da minha carreira, muito por conta deste estado de alerta permanente.
Para mim é muito difícil fazer prognósticos ou tentar criar algum planejamento de carreira. Por exemplo, não podemos saber se as redes sociais ainda serão a principal ferramenta de divulgação do nosso trabalho ou ainda, qual será o formato que as pessoas se utilizarão para consumir música, se o formato físico vai persistir ou se o streamming será mesmo hegemônico como parece. Minha intuição é permanecer ligado a essas constantes transformações e continuar a construir os meios necessários para desenvolver meu trabalho da maneira mais digna possível, isto para mim é o mais importante de todo esse processo.”
http://www.culturaemercado.com.br/site/destaque/quem-tem-medo-da-crise/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=quem_tem_medo_da_crise
tgs: cultura, mercado, produção cultural, produção de cinema, produção de teatro, produção musical,filme nacional, filme brasileiro,festival de cinema, captação de recursos, patrocínio comercial, crowndfunding

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