Indústria Cultural

Cultura é motor de desenvolvimento. Tem uma dimensão econômica, social e simbólica que a torna fundamental para a sociedade — resume Eliane Costa, coordenadora de MBA em Bens Culturais, da FGV.

Mas a crise, como em outros setores, chegou fazendo estrago nos orçamentos. A Secretaria Municipal de Cultura teve um corte drástico na verba para fomento: a previsão da gestão Eduardo Paes era de R$ 25 milhões, mas ficou em apenas R$ 15 milhões. O audiovisual, maior destaque da cena cultural carioca, passa ao largo da crise.

— É a área da cultura mais evoluída economicamente — resume Thamilla Talarico, especialista em economia criativa da Firjan, a Federação das Indústrias do Rio.— Ao contrário do teatro, da dança e de outros setores que dependem de incentivos públicos, o audiovisual conseguiu se estruturar como negócio, já anda com as próprias pernas.

O Estado do Rio é o maior produtor no Brasil. Daqui saem conteúdos para cinema, TV aberta e fechada, internet e publicidade, o que mantém o mercado aquecido, apesar da crise, gerando renda e também emprego.

— O audiovisual é um caminho excelente para ajudar o Rio a sair da crise — acredita Thamilla.

De acordo com o Mapeamento do Audiovisual feito pela Firjan, em 2015, o setor empregava no Estado do Rio, 4.338 pessoas e, dessas, 3.193 estavam na capital. O salário médio na cidade era de R$ 8.176,89. No estado, 6.452,95, mais que o dobro da média brasileira no setor. E a tendência é de crescimento, principalmente na produção para smartphones, que aumenta em ritmo forte.

Antes da Rio 2016, a cidade foi cenário de filmes internacionais, como o “Rio, eu te amo”, que reuniu 11 diretores, entre brasileiros e estrangeiros. O Rio não só estava na moda, como a prefeitura injetou dinheiro em algumas produções. Até mesmo Woody Allen chegou a ser cortejado para filmar um longa na cidade no estilo de “Vichy Cristina, Barcelona”. Apesar da promessa de US$ 2 milhões para ajudar na produção, Woody não veio.

Mesmo que o interesse em filmar no Rio tenha diminuído, a indústria do audiovisual se mantém aquecida. Os números da Rede Globo mostram bem o tamanho do negócio. São produzidas três mil horas de entretenimento por ano. Mais de 130 títulos são distribuídos por 170 países. Quase três milhões de pessoas circulam anualmente nos estúdios Globo. Mas há pontos a melhorar.

— Na parte técnica, o mundo já reconhece a capacitação dos nossos profissionais. Precisamos diversificar nossas vozes e investir na formação de roteiristas — diz Thamilla.

Há as boas iniciativas no mercado nessa área. A Flupp (Festa Literária Internacional das Periferias), que todo ano promove oficinas de texto com moradores de comunidades, desta vez propôs uma parceria com a TV Globo e a produtora Film2B. O Laboratório de Narrativas Negras atraiu mais de 400 interessados, que se autodeclararam negros.

Os 35 selecionados fizeram a oficina ao longo de quatro meses, com aulas aos sábados. E tiveram a chance de ouvir autores da Globo, como Glória Perez, Jorge Furtado, Adriana Falcão e atores, como Lázaro Ramos.

Além disso, havia uma banca com sete mentores, Camila Pitanga entre eles, que orientavam o trabalho dos participantes da oficina na hora de elaborar os roteiros. Depois de escreverem e reescreverem várias vezes seus textos, cada um apresentou no final um argumento.

— Vamos avaliar se algum será desenvolvido — explica Gabriela Máximo, gerente de pesquisa e obras literárias da Globo. Além disso, três participantes serão escolhidos para fazer a oficina de roteiros da Globo ao longo de 2018.

— Os argumentos são originais, surpreendentes e nos trazem a possibilidade de ampliar os olhares para novos temas, vivências e narrativas — diz Gabriela.

Nas outras áreas, além do audiovisual, também há boas ideias circulando. João Domingues, professor de Políticas Culturais e Economia de Cultura da Universidade Federal Fluminense, defende outro uso para o dinheiro público.

Ele argumenta que atividades como teatro, dança e ópera precisam de apoio público ou da iniciativa privada para se manterem porque a cada montagem os custos da produção começam do zero:

— São novos figurinos, novos cenários. O que foi usado anteriormente não serve mais. Por isso, ele sugere que a prefeitura, além dos editais de fomento, invista em estruturas que ajudem a retirar os custos das produções, como assessoria, produção de cartazes.

O que não pode, defende Domingues, é deixar a cultura à míngua. A falta de investimento em cultura, seja público ou privado, provoca danos à sociedade.

— A cultura é fundamental para a formação do cidadão, além de gerar empregos. Retirar investimento em épocas de crise é uma atitude anticivilizatória — acredita Domingues. Um dos desafios é conseguir mensurar o quanto a cultura representa economicamente.

— Não temos um consenso sobre as atividades que podemos definir como cultura. E há muita informalidade na área. Falta uma coisa sistemática. Há um esforço do IBGE neste sentido, mas ainda é muito embrionário — lamenta Eliane Costa, da FGV.

Claudio Rangel, gerente de Cultura do Sesc RJ, também defende o papel da cultura.

— É uma das principais vocações do nosso estado, tem papel importante na geração de emprego e renda e forte importância também para o calendário de turismo. O ator Paulo Betti diz que a classe artística continua brigando para montar boas peças, mas, sem apoio, é muito difícil. Ele acha fundamental fortalecer a Secretaria Estadual de Cultura:

— A classe vê com muita preocupação não ter um nome forte na pasta. Desde fevereiro, Leandro Sampaio Monteiro, coronel do Corpo de Bombeiros, substitui o deputado André Lazaroni, que voltou para a Alerj. A secretária municipal de Cultura, Nilcemar Nogueira, é a favor do fomento ao teatro:

— Mas tem uma crise, temos prioridades. Quero manter a agenda diversificada, trabalhando mais a cultura popular.

Leia mais: https://oglobo.globo.com/cultura/reage-rio-producao-cultural-do-rio-tem-potencial-para-ir-alem-da-vocacao-natural-22169409#ixzz52OxHbv9q

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