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Patrocínios culturais: uma opção importante Uma dissertação de mestrado, de Adriana Donato, a ser defendida na Famecos (Pucrs) ainda neste mês, discute a questão dos patrocínios à cultura, em especial a chamada Lei Rouanet. Adriana, professora do curso de Tecnólogo em Produção Cultural e parecerista da Funarte, dá especial atenção a uma empresa sul-rio-grandense, a rede de supermercados Zaffari, que responde por boa parte dos patrocínios culturais em nosso Estado, bastando lembrar-se da Feira do Livro de Porto Alegre (inclusive a infantil), dos Concertos Comunitários e da série de Dicionários que vem produzindo a cada ano, graças a projetos desenvolvidos pelo poeta e publicitário Luiz Coronel.
 
No estudo a ser apresentado, Adriana Donato mostra que as leis de incentivo têm ajudado a resolver parcialmente o ciclo de produção e circulação cultural do Brasil, que é o apoio ao artista. Mas boa parte dos projetos acaba se omitindo da segunda ponta, que é a circulação e o consumo de tais produtos. O País vive, assim, uma contradição: produz, mas não consegue aumentar o público consumidor. Ora, o interessante, no estudo do caso Zaffari, é que esta empresa, pelo modo com que organizou suas ações de patrocínio, boa parte através das leis de incentivo, sobretudo a federal, auxilia nas duas pontas do processo: ajuda na produção e garante a chegada do produto cultural até a outra ponta, que é o consumidor, popularizando e universalizando o consumo cultural.
 
Para evidenciar esta hipótese, Adriana Donato mostra que as estratégias de marketing da empresa passam pela ideia de um consumo qualificado dos produtos oferecidos pela rede de supermercados, o que é destacado pelo slogan da empresa: economizar é comprar bem, evidenciando a preocupação com a qualidade do que é oferecido, compreendida na relação custo-benefício. O patrocínio cultural estaria integrado a esta dinâmica do marketing que promove a imagem da empresa, aproximando-a do público, tanto aquele que já lhe está tradicionalmente próximo quanto na busca de novos consumidores. Assim os produtos financiados pelo Zaffari sempre possuem qualidade, mas não se limitam à produção, pois integram, em seu processo, a distribuição e o consumo: os Concertos Zaffari são públicos e gratuitos, ao mesmo tempo em que os dicionários são distribuídos gratuitamente às bibliotecas de todo o País. Mais que isso, o Zaffari, embora prime pela qualidade desses produtos culturais, preocupa-se em alargar as faixas de oferta e, por consequência, do público a ser atingido: os programas musicais incluem tanto a música erudita quanto a popular, com especial destaque àquela produzida no Rio Grande do Sul, ao mesmo tempo em que os dicionários, se trazem verbetes redigidos por especialistas da área, estampam textos relativamente curtos – em geral, uma página – com linguagem bastante objetiva, quase jornalística.
 
Ultimamente, o Zaffari tem apoiado iniciativas no campo das artes cênicas, com patrocínios a festivais como o Porto Alegre em Cena e o Porto Verão Alegre, que também apresentam a mesma preocupação com o atingimento de grandes parcelas de assistência, graças a preços relativamente acessíveis, já que as promoções contam com financiamentos através das leis de renúncia fiscal do Estado, aplicadas nestas atividades. Uma empresa, para se promover, pode optar por várias estratégias, que vão da publicidade, pura e simples, a apoios a iniciativas de assistência social (o que o Zaffari também faz), patrocínios aos esportes ou à cultura.
 
A Cia. Zaffari fez uma clara opção preferencial pela área cultural, o que é uma grande vantagem para o estado gaúcho. Se o grupo de supermercados é, comparativamente aos grupos internacionais (Walmart, Carrefour etc.), uma rede relativamente pequena, se consideramos o número de lojas, é das empresas nacionais a que mais se destaca no investimento cultural, bastando lembrar, além de tudo o que aqui se mencionou, as parcerias com outros grupos que tem redundado na construção-administração – junto com a Opus Promoções – de teatros em Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Sergipe, Novo Hamburgo, e assim por diante. Um ótimo exemplo, que tem substituído, em parte, as ausências regionais e locais. –
Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/03/colunas/teatro/551580-patrocinios-culturais-uma-opcao-importante.html)

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