Cultura na era transmídia
Enviado por Mônica Herculano •Cultura e Mercado
O salto tecnológico em serviços de vídeo pela internet, o armazenamento em nuvem, os softwares que rodam sem estar instalados no computador, entre outras novidades surgidas nos últimos anos, contribuíram para a quebra dos modelos tradicionais de consumo de cultura. Hoje o público divide sua atenção em diversas janelas e absorve muito mais informação. Isso força o mercado a entender que é ele, o consumidor, quem está no comando.
“Ele é detentor de múltiplas telas, que carrega consigo, que estão em diversos pontos do seu trajeto ao trabalho, que estão em parte dos cômodos de sua casa. Como construir e distribuir cultura e entretenimento diante dessa situação? Como aceitar que agora essa pessoa quer interagir comigo, artista, produtor, empresário, e que os ouça?”
As questões são levantadas por Rodrigo Terra, diretor de TV e vídeo, produtor transmídia e diretor de negócios e parcerias da Associação EraTransmídia. O grupo, fundado em São Paulo, reúne voluntários apaixonados pelo fenômeno narrativo em multiplataformas de mídia. “Acredito que Transmídia é o signo da mudança que o produtor cultural hoje é obrigado a encarar”, afirma.
Mas afinal, o que é Transmídia? Segundo Terra, é contar uma história em multiplataformas de mídia, gerando engajamento da audiência e transversalizando. “Transversalizar é um neologismo criado para medir o quanto da jornada pelo conteúdo espalhado pelas diversas mídias foi feita pela audiência. É um termo também que referencia o sucesso de um projeto transmídia.”
Nesse sentido, a designer Solange Eiko, vice-presidente da Associação, completa: “Transmídia é um conceito de processo de pulverização do conteúdo, em múltiplas plataformas, sendo que cada mídia conta e acrescenta um fragmento diferente, enriquecendo a história principal”, explica. Uma de suas características é o engajamento do público, dando possibilidades para cocriação do conteúdo.
Antes mesmo de existir o termo, muitos autores já pensavam em disponibilizar o seu conteúdo em outras mídias, com conteúdo diferente e agregando valor ao produto principal. Por isso, acredita o psicólogo e especialista em processos de qualidade Dimas Dion, o termo transmídia deriva de uma evolução na forma de produção para consumo de produtos, serviços e arte.
“Os produtores culturais em atividade não foram consumidores de produtos crossmídia ou transmídia. Além do fato de não terem vivenciado isso e, portanto, não mudaram o seu mindset para o que ocorre atualmente”, afirma Dion.
De volta para o futuro – A Associação EraTransmídia conduz o que seus integrantes chamam de “desformatação”, além do conceito de “Um passo para trás”. “Você tem uma obra, mas agora você precisa pensar no universo dela; e a obra é a manifestação de um recorte desse universo criado”, explica Terra. Outro ponto é a questão da propriedade intelectual. “Você deve criar propriedade intelectual, mas também deve refletir o quanto vai deixar sua audiência mexer com o seu conteúdo. Como o produtor cultural estabelece essa relação entre ter propriedade em cima da criação e deixar que ela se expanda organicamente?”
Outro obstáculo é a resistência por parte dos profissionais de TI. Segundo Terra, quem pensa em tecnologia, de maneira geral, não pensa em conteúdo. E vice-versa: a falta de conhecimento em tecnologia por parte dos produtores culturais também é um entrave. “Um projeto transmídia envolve equipes multidisciplinares. Um produtor transmídia necessita de conhecimento mesmo ‘raso’ das diversas plataformas para saber situar o conteúdo dos fragmentos da história, utilizar no momento certo e na mídia adequada e ter empatia com o público”, explica Solange.
Para Paulo Roberto Celso Wanderley, gerente de projetos e produtor transmídia, ainda na pré-produção do produto cultural, na etapa de brainstorming, é necessário envolver um especialista em comunicação. “O produtor deve entender que comunicação equivocada é o primeiro passo para o insucesso do projeto”, afirma. Por isso, a comunicação precisa ser descrita em cada etapa do projeto, que por sua vez deve se relacionar com a audiência.
Dion acredita que o primeiro passo é conhecer genericamente as plataformas de mídias e dominar algumas delas. Mas além disso, importante ter perfil de integrador de equipes, abrir canais de comunicação com os fãs (para saber o que eles querem), estudar cases de sucesso e aprender com os fracassos dos outros e com os próprios. “E sempre ter espírito de aventura e inovação.”
Multiplataforma de recursos – O planejamento transmídia é mais complexo e interdisciplinar, o que acaba aumentando o investimento inicial necessário, como explica o especialista em tecnologia criativa e startups Sergio Bicudo. “Mas cremos que esse investimento retorna em índices superiores de engajamento, experiência relevante, valores agregados, share etc, que estendem e potencializam a ação do produto cultural.”
Como as leis de incentivo à cultura no Brasil – ainda as principais fontes de financiamento dos projetos – não costumam prever a multiplicidade de plataformas, é necessário fazer uma gestão criativa de recursos, envolvendo vários editais, patrocínios e ações de marketing de forma integrada. “Em via de regra, quando produtores querem utilizar transmídia em seus projetos, mas não encontram possibilidades de fomento que remetam a isso, eles incluem a ação dentro da verba de divulgação e distribuição”, conta Dion. Em alguns casos, indica Bicudo, é possível usar a verba de divulgação para ações presenciais e nas redes sociais, por exemplo, que podem ajudar a compor a narrativa transmídia.
Terra afirma que, mesmo sem dinheiro algum, é possível começar, graças às diversas ferramentas gratuitas online. “O problema é que é preciso pensar no ganho a longo prazo e, infelizmente, no setor cultural do nosso país, a grande maioria ganha no almoço para pagar o jantar. É difícil mesmo ter um discurso de longo prazo nessa situação”, admite. No entanto, tendo em vista que para existir por mais tempo – desejo da maioria dos produtores – é preciso que o projeto ou negócio cultural se rentabilize, é importante buscar alternativas de financiamento.
“Agora, por exemplo, o Fundo Setorial do Audiovisual tem linhas novas do PRODAV focadas em desenvolvimento. Isso é incrível, e pode ser melhorado se nesse desenvolvimento incluir um projeto mais macro multiplataforma. O BNDES dá desconto em taxas do Procult se transmídia for usado no projeto. Realmente para a situação mudar é preciso deixar de pensar em projetos e pensar em empresas”, defende Terra.
Para ele, é preciso se preparar e abrir a mente para novos modelos de negócio, entender que a subsistência de um projeto não pode vir só de dinheiro de edital. “Você é artista, criador, autor, mas também é empresário, dono, administrador. Busque olhar outras indústrias, vá a eventos que você jamais pensou em ir, converse com gente que não tem nada a ver com o que você faz. Assim fica mais fácil enxergar aquela startup de tecnologia como um ótimo parceiro e dividir os lucros do projeto de exposição itinerante e garantir acesso a público de baixa renda via smartphone, por exemplo.”
Fonte : http://www.culturaemercado.com.br/convergencia/cultura-na-era-transmidia/
“Ele é detentor de múltiplas telas, que carrega consigo, que estão em diversos pontos do seu trajeto ao trabalho, que estão em parte dos cômodos de sua casa. Como construir e distribuir cultura e entretenimento diante dessa situação? Como aceitar que agora essa pessoa quer interagir comigo, artista, produtor, empresário, e que os ouça?”
As questões são levantadas por Rodrigo Terra, diretor de TV e vídeo, produtor transmídia e diretor de negócios e parcerias da Associação EraTransmídia. O grupo, fundado em São Paulo, reúne voluntários apaixonados pelo fenômeno narrativo em multiplataformas de mídia. “Acredito que Transmídia é o signo da mudança que o produtor cultural hoje é obrigado a encarar”, afirma.
Mas afinal, o que é Transmídia? Segundo Terra, é contar uma história em multiplataformas de mídia, gerando engajamento da audiência e transversalizando. “Transversalizar é um neologismo criado para medir o quanto da jornada pelo conteúdo espalhado pelas diversas mídias foi feita pela audiência. É um termo também que referencia o sucesso de um projeto transmídia.”
Nesse sentido, a designer Solange Eiko, vice-presidente da Associação, completa: “Transmídia é um conceito de processo de pulverização do conteúdo, em múltiplas plataformas, sendo que cada mídia conta e acrescenta um fragmento diferente, enriquecendo a história principal”, explica. Uma de suas características é o engajamento do público, dando possibilidades para cocriação do conteúdo.
Antes mesmo de existir o termo, muitos autores já pensavam em disponibilizar o seu conteúdo em outras mídias, com conteúdo diferente e agregando valor ao produto principal. Por isso, acredita o psicólogo e especialista em processos de qualidade Dimas Dion, o termo transmídia deriva de uma evolução na forma de produção para consumo de produtos, serviços e arte.
“Os produtores culturais em atividade não foram consumidores de produtos crossmídia ou transmídia. Além do fato de não terem vivenciado isso e, portanto, não mudaram o seu mindset para o que ocorre atualmente”, afirma Dion.
De volta para o futuro – A Associação EraTransmídia conduz o que seus integrantes chamam de “desformatação”, além do conceito de “Um passo para trás”. “Você tem uma obra, mas agora você precisa pensar no universo dela; e a obra é a manifestação de um recorte desse universo criado”, explica Terra. Outro ponto é a questão da propriedade intelectual. “Você deve criar propriedade intelectual, mas também deve refletir o quanto vai deixar sua audiência mexer com o seu conteúdo. Como o produtor cultural estabelece essa relação entre ter propriedade em cima da criação e deixar que ela se expanda organicamente?”
Outro obstáculo é a resistência por parte dos profissionais de TI. Segundo Terra, quem pensa em tecnologia, de maneira geral, não pensa em conteúdo. E vice-versa: a falta de conhecimento em tecnologia por parte dos produtores culturais também é um entrave. “Um projeto transmídia envolve equipes multidisciplinares. Um produtor transmídia necessita de conhecimento mesmo ‘raso’ das diversas plataformas para saber situar o conteúdo dos fragmentos da história, utilizar no momento certo e na mídia adequada e ter empatia com o público”, explica Solange.
Para Paulo Roberto Celso Wanderley, gerente de projetos e produtor transmídia, ainda na pré-produção do produto cultural, na etapa de brainstorming, é necessário envolver um especialista em comunicação. “O produtor deve entender que comunicação equivocada é o primeiro passo para o insucesso do projeto”, afirma. Por isso, a comunicação precisa ser descrita em cada etapa do projeto, que por sua vez deve se relacionar com a audiência.
Dion acredita que o primeiro passo é conhecer genericamente as plataformas de mídias e dominar algumas delas. Mas além disso, importante ter perfil de integrador de equipes, abrir canais de comunicação com os fãs (para saber o que eles querem), estudar cases de sucesso e aprender com os fracassos dos outros e com os próprios. “E sempre ter espírito de aventura e inovação.”
Multiplataforma de recursos – O planejamento transmídia é mais complexo e interdisciplinar, o que acaba aumentando o investimento inicial necessário, como explica o especialista em tecnologia criativa e startups Sergio Bicudo. “Mas cremos que esse investimento retorna em índices superiores de engajamento, experiência relevante, valores agregados, share etc, que estendem e potencializam a ação do produto cultural.”
Como as leis de incentivo à cultura no Brasil – ainda as principais fontes de financiamento dos projetos – não costumam prever a multiplicidade de plataformas, é necessário fazer uma gestão criativa de recursos, envolvendo vários editais, patrocínios e ações de marketing de forma integrada. “Em via de regra, quando produtores querem utilizar transmídia em seus projetos, mas não encontram possibilidades de fomento que remetam a isso, eles incluem a ação dentro da verba de divulgação e distribuição”, conta Dion. Em alguns casos, indica Bicudo, é possível usar a verba de divulgação para ações presenciais e nas redes sociais, por exemplo, que podem ajudar a compor a narrativa transmídia.
Terra afirma que, mesmo sem dinheiro algum, é possível começar, graças às diversas ferramentas gratuitas online. “O problema é que é preciso pensar no ganho a longo prazo e, infelizmente, no setor cultural do nosso país, a grande maioria ganha no almoço para pagar o jantar. É difícil mesmo ter um discurso de longo prazo nessa situação”, admite. No entanto, tendo em vista que para existir por mais tempo – desejo da maioria dos produtores – é preciso que o projeto ou negócio cultural se rentabilize, é importante buscar alternativas de financiamento.
“Agora, por exemplo, o Fundo Setorial do Audiovisual tem linhas novas do PRODAV focadas em desenvolvimento. Isso é incrível, e pode ser melhorado se nesse desenvolvimento incluir um projeto mais macro multiplataforma. O BNDES dá desconto em taxas do Procult se transmídia for usado no projeto. Realmente para a situação mudar é preciso deixar de pensar em projetos e pensar em empresas”, defende Terra.
Para ele, é preciso se preparar e abrir a mente para novos modelos de negócio, entender que a subsistência de um projeto não pode vir só de dinheiro de edital. “Você é artista, criador, autor, mas também é empresário, dono, administrador. Busque olhar outras indústrias, vá a eventos que você jamais pensou em ir, converse com gente que não tem nada a ver com o que você faz. Assim fica mais fácil enxergar aquela startup de tecnologia como um ótimo parceiro e dividir os lucros do projeto de exposição itinerante e garantir acesso a público de baixa renda via smartphone, por exemplo.”
Fonte : http://www.culturaemercado.com.br/convergencia/cultura-na-era-transmidia/
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