DCP É O SUBSTITUTO DO CINEMA EM PELÍCULA
DCP (Digital Cinema Package) é o invólucro de arquivo digital que está se tornando o padrão de distribuição e exibição do cinema digital no mundo, tanto nos festivais de cinema quanto nos circuitos comerciais.
Há quem diga que em poucos meses a película será inteiramente substituída na distribuição e exibição de filmes no cinema comercial pelo DCP (Europa e Estados Unidos já tinham, ao final de 2012, a maior parte de seus cinemas com projetores digitais, enquanto o Brasil, à mesma altura, estava com 25% de suas salas nesse formato). Em 2014 a distribuição de filmes em película terá praticamente desaparecido. É provável que a película vá se tornar apenas um requinte de qualidade para as produções que desejarem uma alta qualidade fotográfica na hora de captar imagem. Ainda assim a maioria dos filmes comerciais já está sendo feita em formato digital, e as empresas que produziam os negativos estão em dificuldade, em concordata ou deixando de produzir negativos de filmes (ver aqui texto com esses dados:http://www.abcine.org.br/artigos/… ). Mesmo filmar em película poderá se tornar demasiadamente oneroso ou impraticável.
O DCP engloba tanto um arquivo de vídeo e audio do filme a ser exibido (além de arquivos de dados) quanto o projetor específico para ler o pacote DCP nas salas de cinema. Os cinemas trocarão (já estão trocando) o seu projetor de película por um projetor de DCP. Parece haver uma disposição da indústria americana para que essa troca se encerre até o final de 2013.
Um filme em DCP pode ter os tamanhos de 2K e 4K. No 2K os tamanhos são de 1998×1080, com aspect ratio de 1.85:1 e de 2048×858, com aspect ratio de 2.39:1, o aspecto anamórfico ou cinemascope do DCP, aquele mais longo. Em 4K pode ser de 3996×2160 (com janela de 1.85) e 4096×1716 (com janela de 2.39). Estes são os novos padrões de tamanho e forma nas salas de cinema.
É claro que meu interesse em tudo isso é para o cinema independente, para o cinema dito de arte ou autoral – aquele que não é desde o início um projeto pertencente à empresa produtora com finalidade principalmente comercial.
Para o cinema indie a padronização do DCP como formato de cinema significa que, ao se falar em cinema digital, não se está falando em “cinema digital” em sentido amplo. Ou seja, um filmmaker independente pode ter uma câmera que capte imagem na mesma qualidade digital próxima aos filmes que estão no cinema (comercialmente ou nos festivais), mas, ao mesmo tempo, os filmes que estão lá não foram finalizados propriamente num formato digital “puro”. O DCP é uma espécie de invólucro do arquivos de audio, vídeo e outros dados, e tem uma produção à parte, não fazendo parte da cadeia de finalização de um vídeo em um programa de edição de vídeo. Existem softwares próprios (e caros) para se gerar os DCPs e “laboratórios” (estúdios, em verdade) especializados em testar sua qualidade. Pelo menos por enquanto é assim que a situação está configurada. Entre a ilha de edição e as salas de cinema agora existem os “laboratórios” de DCP, em substituição aos laboratórios de finalização em película.
Os programas de edição de vídeo mais comuns (Premiere Pro, Final Cut Pro e Avid) não exportam vídeo em formato DCP. Ainda que um vídeo finalizado por um desses editores em formato MOV ou AVID e tamanho 2K possa ter a mesma qualidade que um DCP de 2K, os cinemas não estarão abertos a qualquer outro formato que não o produto entregue no “pacote” DCP. Ou seja, quando se fala que um cinema comercial exibe filmes digitais ou que um festival aceita filmes em formato digital não significa que se abriu o “gargalo” da distribuição cinematográfica em condições de igualdade entre o cinema comercial e o cinema independente.
Existem, claro, festivais de cinema que aceitam em real igualdade de condições vídeos de tamanhos 1920×1080 (o full HD), 2K ou 4K em formato mov ou ProRes (este último possivelmente o codec de vídeo com a mais alta definição na atualidade, e que é acessível ao cinema independente); mas esses festivais são raros. Apenas os festivais muito profissionais e com grandes financiamentos aceitam o que podemos chamar de cinema digital em seu formato “in natura”, sem precisar ser transformado em película ou DCP para receber as mesmas atenções que os filmes de maior orçamento e “maior poder de chegada”.
Um primeiro bom lado de se padronizar o DCP como formato do padrão digital é tentar diminuir a deformação dos filmes digitais no momento de sua exibição. É claro que isso seria possível sem tentar fechar novamente o mercado de distribuição também no mundo digital; mas aí, claro, não estaríamos nos referindo a uma indústria, e o DCP justamente está sendo padronizado pela grande indústria do cinema com o intuito também de se proteger, devido à possibilidade de criptografar o DCP para evitar violação ou cópia não autorizada do arquivo.
Outro complicador levantado pela necessidade de “conversão” dos arquivos digitais propriamente ditos para DCP é a diferença de gama de cores. Existe um Open DCP (que é um programa com código aberto em desenvolvimento para a criação de arquivos DCP em tamanhos 2K e 4K – veja aqui: https://www.apertus.org/opendcp-article ) mas o grande limitador pode ser a diferença de gama de cores. É o que é discutido (literalmente com raiva, em alguns momentos) nesse outro link:http://wemakemovies.org/…/post-product…/screening-formats-2/ .
No texto do link anterior são também resumidas as alternativas de formato para se enviar filmes para festivais, e os pros e contra de cada uma. A conclusão do autor é que um Blu-ray (desde que projetado corretamente) pode oferecer quase a mesma qualidade que um DCP 2K, e sem todo o trabalho e custo adicional que a produção do DCP exige. Isso minimiza, claro, os problemas técnicos de se finalizar um filme em DCP para enviar a festivais, mas não os problemas, digamos, de triagem na seleção dos festivais. O autor só não menciona os festivais (e já não são poucos) que aceitam os arquivos digitais sem precisar de mídia física (por exemplo, pelo uso da plataforma WithoutaBox (https://www.withoutabox.com/), cujo uso tem se tornado um padrão em vários festivais). Nesse caso, os festivais mais abertos especificam quais os codecs de vídeo são os mais indicados para envio, frequentemente algum H264 (um MOV, por exemplo) e o envio se faz via online, por meio de cadastro no WithoutaBox.
De qualquer maneira, no festivais BlueRay, MOV e ProRes tendem a ser vistos como uma categoria mais amadora de cinema do que aqueles filmes que chegam em película ou DCP. Se o festival tem uma comissão de seleção diminuta, mal remunerada, direcionada ao cinema comercial ou já predisposta a seguir a pré-seleção feita pelos editais estatais de fomento à cultura, ou simplesmente se torna uma comissão exaurida diante da quantidade de filmes que são enviados em um forma digital mais livre, o melhor mesmo é finalizar o trabalho em DCP e com audio em Dolby Digital, o que encarece o processo e torna necessário recorrer aos editais e à política cultural, mas serve como um diferencial para a seleção.
É preciso lembrar que a maioria dos filmes enviados a festivais são experimentais ou puras brincadeiras trash. Assistir um filme trash ocasionalmente pode ser engraçado, mas assistir uma sequência deles um dia após o outro pode ser bem sofrido. Os festivais, portanto, que estão cumprindo, na prática, a função de pinçar algumas coisas no meio do “lixo”, terminam por ter dois tipos de seleção: a formal e uma outra, a imprevisível, que é informal e improvisada diante de uma quantidade enorme de filme que ninguém quer assistir. Para quem está iniciando sua trajetória em festivais, o primeiro obstáculo é fazer o seu filme ser ao menos verdadeiramente assistido pela comissão de seleção do festival, diferenciando-se da massa de filmes ruins. Gostando ou não de ambas seleções (a oficial e a informal), é preciso saber que elas existem e é inerente ao processo como se encontra.
O lado melhor dos DCPs sem dúvida será o barateamento da produção de cópias de um filme ao ser distribuído a várias salas de exibição. Para o cinema independente, quando chega às salas de cinema, ter que fazer várias cópias em película era um grande problema, devido ao custo. Os DCPs podem ser duplicados como se duplicam arquivos digitais, pelo menos do ponto de vista técnico.
É possível se concluir, por hora, que há níveis de complexificação na finalização de um filme em cinema independente pelos quais se pode ir passando na hora de levá-lo a festivais, desde algo mais simples e barato até um formato já bem próximo do comercial.
Passo 01: finalizar um curta-metragem em tamanho full HD (1920×1080) e com som stereo ou 5.1 (de preferência, neste último caso, Dolby Digital). Enviá-lo aos festivais que aceitarem nesse formato através de envio online ou por HD ou pendrive. Ou enviá-lo em Blue Ray ou mesmo em DVD para aqueles festivais que apenas aceitarem mídias físicas. Deve-se ter em conta que esse envio será também um primeiro teste. Se o curta não for selecionado em nenhum festival mas houver bastante confiança da equipe (principalmente ao compará-lo aos outros filmes selecionados na mesma categoria), pode ser que valha a pena distanciar um pouco a sua finalização da média, a fim de que aumente a sua chance de ser visto pela comissão de seleção.
Passo 2: “esticar” um pouco o seu curta-metragem captado em full HD para 2K e tentar finalizá-lo em DCP aberto de 2K. Lembre que isso pode ser trabalhoso ou caro, devendo se cogitar se vale a pena fazê-lo ou não.
Passo 3: se o objetivo é fazer um longa-metragem, o melhor é que já se produza o filme em 2K, ou maior, e já saiba que finalizá-lo em DCP será necessário. Enviá-lo, então, aos festivais, nesse formato, ou reduzi-lo para enviar em full hd (já que há festivais que padronizaram o envio em DVD, BlueRay ou arquivo digital por via online, a fim de reduzir a confusão de mídias e formatos). Para um curta em que se deseja elevar o nível de profissionalismo, isso também pode ser seguido.
Esse, pelo menos, é o panorama de momento; mas já é visível todo um conjunto de ações “contra-industrial” a fim de se popularizar a criação de DCPs fora dos laboratórios padronizados.
O fim da película cinematográfica está se dando sem alarde e sem grande comoção. Em parte isso se deve ao fato de que a criação e mesmo a projeção de DCPs poderá aumentar a diversidade de produção e exibição de filmes. Certamente o fim da película traz uma perda estética para o cinema, além de significar o fim de uma era, que começou romântica, foi artística e terminou monopolista. A era do DCinema pode significar o fim dos monopólios da finalização e da distribuição de filmes em alta qualidade. Como na música, a filmografia pode se tornar “tribal” ou individual para quem for ativo em buscar aquilo que lhe interessa.

fonte: https://pt-br.facebook.com/tragikhouse/posts/531107620286514
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